Informativo Eletrônico - Edição 219 - Maio / 2025

A Presidência Mundial do Chartered Institute of Arbitrators – Ciarb

Cesar Pereira C.Arb FCiarb

Prioridades

Quando decidi aceitar a indicação do Ciarb Brazil Branch e concorrer à presidência do Ciarb, a grande pergunta para mim era o que eu esperava realizar como presidente. Entrei no Ciarb quando não havia nenhum Branch no Brasil, nem perto disso. Tivemos que começar tudo do zero, inclusive criando a conscientização local sobre o que o Ciarb era e representava.

É muito gratificante ver que hoje o Ciarb é um importante ator nas comunidades arbitrais do Brasil e da América Latina como um todo. Acompanhei o nascimento e crescimento do Brazil Branch, vi sua relevância aumentar e a chegada constante de novos membros.

Como presidente do Branch e integrante da sua diretoria, vivi diretamente a interação com outros Branches e percebi o quanto podemos ganhar ao compartilhar projetos e fazer contatos. Como membro ativo da comunidade arbitral da América Latina, sou testemunha de como as diretrizes do Ciarb são cada vez mais citadas e utilizadas, vi o Ciarb passar a participar ativamente do debate público sobre resolução de disputas, inclusive tomando medidas concretas, como a atuação como amicus curiae perante o Supremo Tribunal Federal ou a participação em audiências públicas sobre mudanças legislativas ou regulatórias.

É nesse contexto que se encaixam os meus planos para quando assumir a presidência do Ciarb em 2026. Espero dar continuidade ao esforço do Presidente Mohamed Abdel Wahab para mostrar como o Ciarb pode contribuir para o maior desafio imediato que enfrentamos atualmente na resolução de disputas: o papel da tecnologia e da inteligência artificial.

O Ciarb já está participando dessa discussão. Editou suas diretrizes, fruto do trabalho de um grupo diversificado que elaborou orientações equilibradas, práticas e fundamentadas em princípios sólidos. Apesar da dificuldade inerente a um tema tão inovador, o Ciarb não recuou; pelo contrário, assumiu com coragem a responsabilidade de ser uma voz global que precisa ser ouvida e fazer a diferença. Nada parece mais prioritário do que garantir que continuemos a estar presentes nessas discussões inevitáveis, urgentes e transformadoras. Conceitualmente, manter o Ciarb como protagonista na maneira como a comunidade de ADR irá lidar com as transformações tecnológicas deve ser minha principal missão.

Para enfrentar desafios globais – e a inteligência artificial não é o único – a organização descentralizada do Ciarb precisa de Branches fortes e conexões bem desenvolvidas entre eles. É essencial criar cada vez mais oportunidades de colaboração real. Acredito que posso contribuir com isso ao construir, de modo mais pessoal, as pontes necessárias entre os Branches. Claro, também precisamos de ferramentas tecnológicas que nos mostrem o que alguns Branches têm a oferecer que pode ser de interesse para outros. Porém, valorizar a experiência pessoal nesse processo não é apenas útil; é necessário, especialmente diante de todas as transformações tecnológicas atuais.

O que buscamos ao ingressar no Ciarb? Como o Ciarb desempenha diferentes papéis em diferentes locais, é natural que tenhamos objetivos distintos. Podemos buscar conhecimento, oportunidades networking de qualidade, ou reconhecimento profissional. Podemos querer ajudar ativamente a melhorar o nosso setor ao contribuir para o debate sobre diretrizes e melhores práticas em resolução de disputas. Podemos desejar aumentar nossas chances de obter nomeações como árbitros. É certo que todos queremos ampliar nossa voz e conhecer pessoas de outras jurisdições – não apenas trocando cartões em conferências, mas também por meio de oportunidades concretas de apresentar nosso trabalho e descobrir o dos outros.

Isso é positivo independentemente de onde for a sua base de atuação. Se você está num centro global de arbitragem internacional, talvez tenha já certa facilidade em ser procurado para atuações internacionais; ainda assim, pode ser útil conhecer novos potenciais parceiros ou incluir no seu pool de árbitros alguns profissionais de outras regiões. Já se você não está baseado em um desses centros globais—como é o meu caso—, a visibilidade internacional exige muito mais esforço. O Ciarb é a plataforma perfeita para oferecer oportunidades como essas. Meu objetivo como presidente é facilitar ao máximo esse processo, estimulando a interação entre os Branches existentes e incentivando a expansão do Ciarb em regiões com muito potencial de crescimento, como a América Latina e a África.

Duas das minhas prioridades como Presidente são o aumento da colaboração entre os Branches e a expansão do Ciarb em áreas onde há um potencial de crescimento, como a América Latina e a África.

Em termos concretos, pretendo trabalhar para que, em 2026, o atual Peru Chapter possa lançar-se como Peru Branch. Será o primeiro Branch exclusivamente de língua espanhola. Espero que sua criação seja um incentivo para outros países da região muito ativos em arbitragem, como a Colômbia, Chile, Argentina, Equador, Panamá, Costa Rica e tantos outros. Temos muito a construir na América Latina.

O mesmo se pode dizer quanto à África, especialmente os países de língua portuguesa. Em 2023, estive em Angola com o Ciarb Brasil. Voltei empolgado com a perspectiva de replicar em Angola o que fizemos no Brasil e que levou à criação do Brazil Branch em 2019. Espero que 2026 possa também ser o ano dos países africanos de língua portuguesa no Ciarb.

Depois que fui eleito, uma grande amiga da Ásia me lembrou que o presidente do Ciarb é também um embaixador das Branches e membros junto aos órgãos diretivos e executivos do Ciarb. Vejo isso como uma parte importante do meu papel: estar à disposição dos Branches e dos membros do Ciarb para discutir ideias estratégicas ou preocupações que possam se beneficiar de uma abordagem mais pessoal. Fico muito animado pelo fato de que neste curto período várias pessoas já me procuraram nesse sentido.

Sinto-me especialmente honrado por fazer parte de uma “equipe presidencial”, atuando como vice do presidente Mohamed Abdel Wahab e tendo como futuro vice-presidente Michael Tonkin, ambos profissionais incríveis, verdadeiramente ativos no cenário internacional e com quem todos nós temos muito a aprender. Para mim é uma honra atuar ao lado deles.

Ciarb como experiência pessoal

Para mim, o Ciarb teve um impacto muito pessoal e significativo. Tornei-me Fellow quando estava começando a transição de atuar somente como advogado para atuar também como árbitro em arbitragens domésticas e internacionais. Minha primeira nomeação relevante como árbitro veio de pessoas que conheci durante o programa para me tornar Fellow, realizado no Brasil em 2013. Nas iniciativas que adotei então para aprender mais e me envolver com o Ciarb, percebi que as pessoas dos outros Branches e do escritório executivo em Londres eram em geral acolhedoras e muito dispostas a ajudar.

Esse processo de interação com outros Branches, inicialmente especialmente nas Américas, e as visitas frequentes aos executivos do Ciarb em Londres e outros locais para criar as condições necessárias para fundar o Branch no Brasil, me permitiram construir conexões sólidas e importantes. Essas conexões foram essenciais para me dar a visibilidade internacional necessária,  e até reforçar minha reputação no Brasil, para criar uma atuação agora já bem estabelecida como árbitro, advogado e legal expert em arbitragens internacionais e domésticas.

Claro que cada pessoa tem sua própria experiência com o Ciarb. Tive a sorte de fazer parte de um grupo muito ativo de Fellows que ingressaram no Ciarb junto comigo e tinham interesse em expandir a instituição no Brasil. Outros se juntaram mais tarde e adotaram essa ideia, permitindo que todos nós crescêssemos juntos através dessa colaboração.

O Ciarb é tão amplo e diverso que pode oferecer as oportunidades que você procura, independentemente de qual seja seu foco principal, desde que esteja realmente interessado. Para mim, o Ciarb foi transformador. Minha primeira interação com o Ciarb ocorreu cerca de quinze anos atrás, ao conhecer Fellows na Ásia e na Europa durante as competições do Vis East e do Vis Moot. Logo em seguida, participei do primeiro Accelerated Route to Fellowship (ARF) do Brasil. De lá em diante, meu envolvimento com o Ciarb foi crescente e cada vez mais compensador. Meu “eu mais jovem” daquela época não poderia imaginar todas as mudanças que viriam. Quando você está em um bom lugar, rodeado por boas pessoas, coisas boas certamente vão acontecer. 

Compartilhe:

LinkedIn
WhatsApp
Cesar Pereira
Cesar Pereira C.Arb FCiarb
Partner at Justen, Pereira, Oliveira & Talamini                                                                      
Cesar Pereira
Cesar Pereira C.Arb FCiarb
Partner at Justen, Pereira, Oliveira & Talamini                                                                      
Aviso Sobre o Uso de Cookies

Este site utiliza cookies próprios e de terceiros para aumentar a sua funcionalidade e eficiência e melhorar a experiência do usuário.

Ao acessá-lo, o usuário deve estar ciente de que, caso continue navegando, consentirá para a utilização de cookies e poderá, a qualquer momento, mudar de opinião e bloquear a utilização através de seu navegador.

Nos termos da legislação vigente em matéria de proteção de dados, todo usuário do site tem a opção de anuir expressamente e de ter acesso a mais informações a respeito do uso de cookies.